sábado, 4 de julho de 2009

CASA DE CORA CORALINA NO ALUMIAR

O texto a seguir foi escrito pelo Alumiar através de Mariza Helena Ribeiro Facci Ruiz, poeta, terapeuta floral e tantas outras "cositas más"... Só quem tem olhos doces como você é capaz de ver e escrever com tanta poesia em cima da própria poesia ... Obrigada!
Visite o site do jornal Alumiar: www.alumiar.com, para ler mais textos de Mariza.

Cora Coralina


O que é que a casa da Cora Coralina faz em Ribeirão Preto, na Praça XV? Veio talvez pelos ares a imitar cena do Mágico de Oz e foi depositada ali, por onde todos passam, em movimentada Feira do Livro? Certamente não amassou bruxa nenhuma.
Pousou para trazer em espírito Ana Lins dos Guimarães Peixoto – a Cora Coralina –, poeta, escritora, doceira e mulher de extrema bravura e coragem. Pousou para trazer em carne e osso, Tina de Oliveira, artista, cantora e contadora de estórias, representando com alma e gosto a Patrona da Feira.

A casa abre suas portas e as pessoas entram. As crianças sentam-se na frente, no chão. O espaço lota-se. Eu me sento na turma do gargarejo e aguardo. Virá como Cora a atriz? Virá transformada de que forma?
Como se inundou desta vez do personagem? Nas paredes vejo as imagens que reproduzem o universo da poeta goiana. São grafites incríveis: ali estão fogão, poltrona preferida... Começo a sentir que estou realmente perto de Cora. Tina Oliveira entra. Não é Cora. Seus movimentos são ágeis e seu falar, também. É Tina no entanto seu vestido é de molde antigo, com gola bordada. Ela canta música do passado, a modinha “Fechei na mão um sorriso” que certamente foi ouvida por Ana/Cora. A letra fala de amor e de ser infeliz. É Cora. Ela tem na mão um desenho de lábios coloridos, esboçando sorriso que faz a alegria e o fascínio das crianças que assistem. É Tina.

Ela conta estória da antiga China, em que dois jovens se apaixonam, a jovem filha do mais rico Mandarim, o jovem um filho de ninguém. Fala da dificuldade de ficarem juntos, dos percalços, da fuga para lugar longínquo. O retorno, o pai que perdoa, o felizes para sempre. Como sempre suas mãos gesticulam configurando as cenas, os sons onomatopaicos enchem nossos ouvidos. É Tina. Ela incita as crianças a participarem e como sempre são elas que entendem tudo e que respondem a contento com propriedade e muito coração.

Ela conta estória da escrava judiada por tenebrosa senhora. Obrigada a dormir no chão perto da tirana, a menina tinha de levantar quantas vezes fosse chamada e não dormia direito. Um dia porque quebrara louça da senhora foi obrigada a andar com um colar de cacos da louça quebrada e uma noite um dos cacos se lhe enterrou no pescoço e a menina morreu por conta da maldade de sua algoz. As crianças arregalam os olhinhos e ficam impressionadas. É Tina.

Então Tina fala de Cora. Das estórias que ela ouvia. Da estória do Prato Azul Pombinho, que expressa em forma de poesia, contando a estória do Mandarim que ela ouvira de sua avó, contando que ao quebrar o prato, ela recebera um castigo similar ao da escrava. Agora está tudo claro, mas percebo que esteve desde o princípio. Não há Tina e não há Cora. Há Cora e Tina todo tempo. Tina inundada de Cora.

Realmente a casa foi pousada como no Mágico de Oz e veio com ela a poeta Cora Coralina. Ela ficou lá esperando por Tina Oliveira, certamente saiu muitas vezes para encontrar-se com ela, talvez em sonhos, nesses espaços onde a fantasia é possível.

Agora na tela está Cora Coralina. Seu rosto se estampa bom e lindo. A lindeza vem de um lugar especial, delicado e ao mesmo tempo forte. Não passa por padrões estéticos, ultrapassa-os assim como ultrapassa a idade. Ficamos ali, transidos, a ouvi-la falar de sua vida, da importância da poesia. “Até mesmo do lixo se faz poesia, ela diz” “Eu não tenho nada, mas nada me falta”. Mais uma vez Tina escolheu o que nos toca o coração. Ninguém vai se esquecer de Cora Coralina, nem de Tina Oliveira. Elas penetraram em nós via lado esquerdo do peito, singelamente, como nos versos abaixo, que terminam o espetáculo.

Chorei sozinha minhas mágoas de criança.
Depois, me acostumei com aquilo.
No fim, até brincava com o caco pendurado.
E foi assim que guardei
no armarinho da memória, bem guardado,
e posso contar aos meus leitores,
direitinho,
a estória, tão singela,
do prato azul-pombinho.

4 comentários:

  1. que linda homenagem tinoca
    fiquei emocionada pela descrição bela do que eu também pude ver :)

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  2. Tinoca, querida, quero muito ler e comprar algum livro bem bacana da Cora Coralina. Tem que ter duas poesias: "prato azul pombinho" e "recomeça". Qual livro dela você me sugere? Bjus e saudadona
    Monica

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  3. Bom Dia,Tina!Fiquei encantada com tanta ternura e poesia Parabéns!também adoro a tão querida Cora Coralina.Abraços Maria Izabel

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