quinta-feira, 2 de julho de 2009

HISTÓRIAS LEGAIS NO BEQUINHO DE CORA

Terminou a Feira do Livro. Conseguimos completar 50 apresentações no “Bequinho de Cora Coralina”. Essas 50 apresentações foram divididas em duas: um mix com duração de 30 minutos, para arrebanhar crianças que estavam ociosas e o espetáculo todo com duração de 50 minutos para o público em geral. Muitas histórias bacanas aconteceram com a platéia infantil.

Na história da Princesinha Lui e o plebeu, o velho mandarim, pai da princesa, pede aos soldados que coloquem fogo no quiosque e tragam os corpos tostados para ele ver, mas os soldados não encontram os corpos e o mandarim olha para o mar e vê um barco com quatro bracinhos acenando alegremente. Eu pergunto para a platéia: Quem são esses bracinhos? Um garotinho (uns 5 anos) grita:
- Os corpos.
Foi uma risada só, com direito a aplausos para o garotinho, que cá entre nós mereceu.

O mix do espetáculo tinha outro formato, especial para crianças da pré-escola, na abertura faço uma dinâmica com minha caixa de histórias, e tiro de dentro o livro da Cora Coralina e peço que eles escolham qual das duas histórias devo contar: uma com final feliz e a outra uma história muito triste. Em todas as sessões foi unânime a escolha pela história muito triste. Achei esse dado interessante. Será que a identificação com a tristeza é mais forte do que com o final feliz? Eles já sabem que na vida nem tudo é final feliz?

Na história da escravinha Jesuininha, o momento crucial e mais triste é quando o caco fura a veia do pescoço dela, todo o sangue de seu corpo se esvai por esse buraquinho, durante toda a noite.
Nesse momento, dois irmãozinhos sentadinhos juntos. O menino olha pra cara da menina e diz: Nossa! Que cara! Ela olha pra ele, junta as mãozinhas fazendo um colar com as mãos e diz: Era CACO DE VIDRO com a carinha mais triste do mundo. Riso geral da platéia.

Aquela 5ª. Série da professora Marisa:
Uma classe de 5a. série, professora bacana, perderam a hora no Planetário, não tinham onde ir, entraram no Bequinho. Foi a coisa mais linda que eu já vi. No final, depois de tudo explicado, todos lemos juntos a última estrofe do poema O Prato Azul-Pombinho. A classe toda lendo devagar por não ter fluência dominou o auditório e todos (os adultos) leram naquele andamento. Logo depois da leitura, sem intervalo nenhum, as luzes se apagam e eu entro cantando Amo-te muito, não dei conta e chorei cantando a música. Não me lembro de ter passado uma experiência dessa antes. Nem dessa: na fila dos abraços, várias crianças me abraçaram chorando... Aí choramos e rimos juntos. Foi incrível. Uma compensação assim, apaga qualquer dor no coração da gente.

Numa das apresentações comecei a contar a história da Jesuininha explicando sobre a Dona Jesuína, um pouco diferente das outras vezes, uma garotinha, assistindo o espetáculo pela segunda vez, cutuca o Rodrigo (que estava cuidando do vídeo) e diz assim:
- Ela mudou essa parte!!!!!!

O dia 24 (quarta-feira) foi o mais difícil. Entra uma turma de adolescentes absortos, com pensamentos distantes, menina fazendo trancinhas no cabelo da outra durante o espetáculo, outros mexendo no celular (mesmo desligado), olhares de desdém para mim, enfim crianças que não são acostumadas a ouvir histórias, pois requer atenção. Sofri demais. Na apresentação da noite, uma senhora sentada na primeira fila (Dona Estela) muito carente de "ouvidos", falava MUITO alto comigo, interrompendo o meu raciocínio, durante toda a apresentação. Foi muito difícil. Pessoas saíram, outra chegou a sentar-se ao lado dela e dizer-lhe baixinho: "ela precisa se concentrar, quando terminar a senhora conversa com ela". A Dona Estela muito "senhora de si" diz em alto e bom tom: MAS EU SÓ ESTOU AJUDANDO ELA. Agora, escrevendo aqui, acho engraçado... Mas na hora foi muito difícil. No final, na fila dos abraços, ela falou baixo pra mim: "Você me perdoa?" - E eu calmamente respondi: "Dona Estela a senhora não precisa de perdão, a senhora pode tudo". Estou salva, pensei!
Os monitores do stand da Vivo, ali coladinho à Casa da Cora, foram assistindo, geralmente dois por vez. E três assistiram essa sessão da Dona Estela. Então, passamos a ter um código ali no meu pedaço, quando eles me viam por ali diziam: Olha que chamo a dona Estela hein!!!!! heheheheh

O César, monitor de som do espetáculo, ainda não havia assistido o Mix. Quando eu tento abrir a caixinha, que é “sistemática”, e ela não abre eu começo a sofrer dizendo que se ela não abrir não conseguirei contar a história e tal... Nessa primeira sessão do César, eu perguntei a ele alto:
- César, você colou a caixinha?
Ele mais que depressa, “para me salvar” diz:
- Sim, colei.
Tive que arrumar um jeito de dizer que a caixinha não aceitava cola de outra pessoa que não fosse eu...
O improviso na contação de história às vezes, coloca a gente em apuros.

Um comentário:

  1. muito bom!!! OS CORPOS foi demais rsrsrsrs
    cuidado com a Estela hauhauhauhauhauhauhau

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